quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Rogers Wendel – Voluntário à Missão Salvar Crianças Bruxas – Caminho Nações - Eket, Akwa Ibom Nigéria



A África de pele negra, de olhos negros, de cabelos negros é a África que não tem dia reservado para a consciência negra
Gito Wendel

A África de pele negra, de olhos negros, de cabelos negros é a África que não tem dia reservado para a consciência negra, para a consciência de quem são, para a consciência do que foram, do caos da escravidão, da exploração dos outros que cruzam mares e distâncias para lhes tirar a liberdade, a música, o ouro, o petróleo, a fé e a identidade, quando não, a vida.

A África não tem dia reservado para a consciência. Triste dia são os dias reservados para recobrarmos a nossa consciência do real valor do que se comemora. Lembrando que comemorar é memorar-com, ou seja, memorar junto, trazer à memória em grupo, lembrar acompanhado.

Precisamos de dia marcado para comemorar, memorando juntos, o dia das mães, dos pais, das crianças, do indígena, do negro, dos namorados, talvez porque nos tornamos pessoas frias em seus relacionamentos e esquecidas de suas memórias, o que deveria realmente ter valor em nós.

Se tivesse real valor em nós, não seria dia reservado para memorar, seria apenas a memória sempre presente, sem agendamento. Seria o memorar no dia-a-dia. Muito mais sincero. Revelando em nós, muito mais humanidade e uma boa memória, do que vale a pena lembrar e reviver, ainda mais "com", ou seja, acompanhado.

Na África não tem dia reservado, mas se com-memora. Juntos, muitos se lembram de suas dores, de sua história, de seu passado de lutas e glórias. No entanto, a África perdeu o tom. Lembra-se muito e se esquece de construir o futuro. O exercício de re-lembrar deve ser para re-construir um futuro.
Quem pouco conhece de seu passado e sua história, pouco almeja no futuro. E se não conhecermos bem nosso passado, podemos repetir os erros dos anos que se foram.

A África negra foi enfeitiçada por uma bruxa que atravessou oceanos e ensinou-lhes a se apoderarem de coisas para que tenham preço.
Coisas tem preço. São compráveis, negociáveis. Pessoas tem valor. Não se compra. Não se pode vender. Mas aqui a bruxa ensinou que tanto coisas como pessoas podem ser produtos e tem preço.

O feitiço tomou o coração de muitos, que envaidecidos pela sedução da bruxa e seus anéis dourados, perderam sua essência e identidade e se transformaram em mercadoria ao comprar e vender a alma.

E mais do que nunca, é preciso ter dia de consciência. De conscientização. De lembrá-los que são humanos. Não são produtos.
Gente não se vende e não se compra.

Que a escravidão é também uma algema e um grilhão que se ata ao coração e à consciência. Quem não libertar a consciência, terá a maior das prisões.

Por isso, no dia de hoje, liberte-se. Permita-se à liberdade de pensamento. Não tranque suas ideias num calabouço. Não tema o olhar hostil dos senhores de engenho que querem se apropriar de todos. Faça do dia da consciência negra, o dia de sua libertação todo o dia e transforme esse dia, em data cravada no coração, sempre.
Sim, pois todos, precisam libertar-se das correntes que travam a consciência.

E então, seremos livres para com-memorar, sem marcar data, apenas pela consciência que sem memória, o novo nunca acontecerá.


Rogers Wendel – Voluntário à Missão Salvar Crianças Bruxas – Caminho Nações - Eket, Akwa Ibom
Nigéria

Sobradinho

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